Liberalismo

Liberalismo é uma doença mental


     Já aviso: não é nada disso que você está pensando!! Você vai entender melhor ainda se começar por aqui, mas é possível também compreender o post sem nenhuma leitura prévia.
     Por incrível que pareça, a burguesia já foi uma classe revolucionária um dia. No mundo medieval, as pessoas estavam destinadas a morrer no estrato social em que nasceram (nobre, religioso ou camponês), sem possibilidades de melhorar de vida. A igreja católica tinha poder absoluto e quem governava supostamente era escolhido por deus, aqui propositalmente em minúscula, sem que o povo exercesse qualquer intervenção.
     A burguesia trouxe novidades: vindos das classes baixas e enriquecidos através do comércio, os burgueses defendiam que as pessoas deviam poder ascender socialmente, pois antes das condições de nascimento viria o esforço individual (mérito). Seus novos conhecimentos científicos esbarravam na visão tradicional da igreja católica e eles eram a favor de algo até então inédito - que se votasse para decidir os líderes. Até então, quem nascia filho do rei o fazia porque deus quis e por isso tinha o direito legítimo de governar (a não ser que fosse mulher, claro ¬¬').
     Mas isso foi no final do século XVIII e, uma vez no poder, a burguesia pode até ter deposto a nobreza, mas não foi melhor que ela com as trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade. Tornou-se uma nova elite. 
     Podemos afirmar que o liberalismo foi a ideologia da burguesia e, francamente, ele não é de todo  ruim. Compreende
  1. Eleições, ao invés de o poder passar de pai pra filho.
  2. Direitos iguais para toda a população, ao invés de diferentes dependendo se a pessoa é da alta nobreza, da baixa nobreza, do campesinato etc. 
  3.  Liberdade de imprensa, inclusive para criticar o governo.
  4. Depois da Reforma Protestante, passaram a reivindicar também liberdade religiosa.
  5. "Liberdade" para se fazer comércio sem intervenção estatal (vou falar melhor disso no neoliberalismo).
  6. Propriedade privada - esqueçam as terras de uso comum, pra burguesia tudo tem que ter dono.
  7. Individualismo - ao invés de uns rezam, outros lutam, outros trabalham e assim a sociedade vive em harmonia, cada um com o seu papel... o liberalismo coloca o indivíduo e sua vontade de se realizar naquilo para que tem vocação pessoal como prioridade.
  8. O governo não deve ter poder absoluto/absolutista, e sim poder limitado. "o governo não pode dispor de poderes ilimitados, menos ainda variáveis ao sabor dos tempos e das circunstâncias, ainda que elas os queiram modificar e ampliar. Os liberais clássicos acreditam que o mandato de soberania deve ser taxativo e limitar-se às funções primordiais. As tentativas de ampliação desses poderes devem, assim, ser vistas como indesejáveis, senão mesmo atentatórias das liberdades individuais e comunitárias."
 
  Então, por que diabos o feminismo radical é anti-liberal?

  
 E ele é mesmo. O que as feministas radicais costumam defender, na ordem dos tópicos acima:
  1. Democracia direta. Ao invés de votarmos em um representante para ele ou ela defender nossos interesses, devemos fazê-lo pessoalmente. O liberalismo parte do princípio da democracia representativa, o feminismo radical geralmente adota a democracia participativa. É por essas e outras que o feminismo radical "não representa" um monte de feministas: ele não está tentando!!!
  2. Leis diferentes para pessoas que pertencem a grupos os quais historicamente tem menos direitos, para reparar os danos de uma sociedade que é hoje desigual (ex: cotas, presunção de que as denúncias de assédio são sempre legítimas etc).
  3. Liberdade de imprensa sim, mas com mídia regulamentada. Para que os jornais não sejam ferramentas de difamação das minorias por poderem publicar irresponsavelmente QUALQUER COISA que quiserem. Inclusive falácias, mentiras, propagandas disfarçadas de notícias etc. Nós mulheres estamos sempre sendo vítimas de jornalismo punheteiro, entre outros problemas.
  4. Ampliação e radicalização do antigo conceito de liberdade religiosa, para que ele abranja também as religiões fora do eixo monoteísta patriarcal e a liberdade de descrença (ateísmo, agnosticismo). Mono = um Teo = Deus Monoteísta patriarcal = Um deus homem (cristianismos, islamismos, judaísmos). 
  5. Regulamentação do comércio. Transgênicos? Alimentos produzidos com agrotóxicos? Não obrigada. Se são mais lucrativos, no que depender das empresas é isso que teremos, portanto o Estado tem que intervir. Além disso, o Estado tem também que impor salários mínimos, direitos trabalhistas etc. Num vale-tudo sem regulamentação as empresas deitam e rolam em cima dos trabalhadores.
  6. Propriedade coletiva dos meios de produção. Isso não quer dizer que você vai usar escovas de dente e calcinhas coletivas. Quer dizer que as fábricas, as terras e os instrumentos de trabalho devem ser convertidos em bens coletivos, para que a riqueza gerada pelo trabalho seja também de todos, ao invés de ir inteira para o bolso do proprietário dos meios de produção (latifundiário, industrial, empresário etc). 
  7. Coletivismo. Os interesses individuais não devem prevalecer sobre os da coletividade. 
  8. E, finalmente, concordamos com os liberais em alguma coisa. Nada de Estado absolutista! :D
     Entendeu agora por que é tão difícil não reproduzir liberalismo? Vivemos em uma sociedade profundamente liberal, com eleições, com imprensa sem censura prévia do governo, com propriedade privada etc. Escapar a essa lógica é profundamente desafiador.  Principalmente porque nós temos MEDO que a sociedade retroceda de liberal para pré-liberal, com mais poder para a igreja católica, censura da imprensa, repressão às expressões individuais de gostos/indumentária/opiniões etc.
     Feministas liberais DEFENDEM o bem-estar individual como prioridade (ver pornografia, se maquiar, ter a vida sexual que quiserem etc). Feministas radicais às vezes reproduzem ideias originalmente liberais, por engano. É preciso conhecer o problema a fundo para não incorrer neste erro.
     Mais postagens sobre liberalismo virão para ajudar a desatar esses nós! Aguardem :) Por enquanto já prontas:
   Neoliberalismo
   Liberalismo como status quo e feminismo como revolução

Descanse em paz liberalismo

   

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